20 septiembre, 2009

Hiperdrama

Hiperdrama – dramaturgia e pós-modernidade nas mídias digitais

Maria Cláudia de Oliveira

Universidade do Rio de Janeiro


O objetivo do trabalho de Maria Claúdia de Oliveira é analisar as características e potencialidades comunicativas do hiperdrama como um novo formato de narrativa dramática e audiovisual desenvolvido pelas mídias digitais. O nosso é corresponder as solicitações da disciplina Tecnologias Contemporâneas na Escola, publicar os trabalhos em blogs de acesso público e desta forma contribuir para a difusão do conhecimento na rede mundial de computadores.

Situando-nos que no debate acadêmico, as transformações provocadas pelo advento das novas tecnologias midiáticas tem sido exaustivamente estudado, a autora propõem avaliarmos a criação de produtos culturais voltados as sociedade globalizada como desafio para teóricos, artistas, produtores, profissionais do mercado de entretenimento e cultura de massa uma vez que o complexo relacionamento entre culturas locais e transnacionais, as infinitas possibilidades criativas que surgem por meio da velocidade do deslocamento de informações, as dificuldades em relação a tradutibilidade cultural de obras e as novas formas que esses produtos culturais podem assumir em pleno mundo globalizado, estão na pauta do dia.

Diante disso e das percepções da autora diante da quantidade de novos recursos midiáticos disponíveis sugerem um novo formato de narrativa dramática que utiliza as tecnologias de comunicação digital e todas as possibilidades de interação, fragmentação da narrativa, simultaneidade de ações e descentralização da figura do ator, o Hiperdrama segue o hipertexto e a hipermídia como condutores e de duas importantes representações dramáticas: o melodrama e o cinema. A hipótese levantada é a defesa de que o hiperdrama seria a representação pós-moderna da dramaturgia audivisual.


O hiperdrama, como narrativa dramática audiovisual, só é passível de ser executada em mídias digitais cuja estrutura se baseia nos conceitos de hipertexto e hipermídia. Sobre a origem do hipertexto, a autora remonta o surgimento do Memex cuja proposta do cientista Vannnevar Bush (1890-1974) era complementar a memória humana criando um meio de organizar informações por meio do processo da associação o que mais tarde, com Theodore Nelson, viria a ser o que hoje conhecemos como links. Já com o filósofo Pierre Lévy, o hipertexto como um conjunto de nós, tem seis características que nos auxiliam a pensar o hiperdrama. A primeira delas é a metamorfose uma vez que a rede está em constante construção e estruturação; heterogeneidade pois nele encontram-se imagens, sons, palavras, sensações; multiplicidade já que o hipertexto se organiza em um modo “fractal”; exterioridade pois a rede não possui unidade orgânica, nem motor interno; topologia em que tudo funciona por proximidade e mobilidade dos centros.

Muito próximo da cognição humana como afirmam alguns teóricos, o hipertexto e, assim defende a autora, o hiperdrama tem seu funcionamento muito semelhante a mente humana, indo e vindo em direções aleatórias, misturando passado, presente e futuro, realizando conexões entre idéias e pensamentos que não possuem, aparentemente, ligação entre si. Quanto a hipermídia que aproveita a arquitetura não linear das memórias de computador para viabilizar obras em terceira dimensão, dotadas de uma estrutura dinêmica que as torne manipuláveis inteirativamente.


As características de fragmentação e descentralização presentes nos dois conceitos nos remete ao conceito de pós-modernidade que, de acordo com François Lyotard, é “o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos das ciências, da literatura e das artes a partir do século XIX”. Transformações que posterior a década de 60, romperam e ultrapassaram fronteiras culturais e socioeconômicas. David Harvey coloca a heterogenidade e a diferença como “forças libertadoras” na definição do discurso cultural e assim como a fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais são o arco do pensamento pós-moderno. “ A nossa linguagem pode ser vista como uma cidade antiga: um labirinto de ruelas e pracinhas, de velhas e novas casas, e de casas com acréscimos de diferentes períodos; e tudo isso cercado por uma multiplicidade de burgos com ruas regulares retas e casas uniformes”. Essa representação da antiga cidade européia como metáfora dapós-modernidade poderia ser comparada, segundo a autora, as favelas brasileiras como retratos nacionais de uma lógica excludente da globalização e do capitalismo tardio. A hipermídia reproduz essa estrutura do labirinto e, ao contrário do que imaginavam os gregos em relação ao labirinto cretense não como uma prisão mas como avançar sem se perder já que o labiritno existia para ser percorrido.

Seguindo a lógica do labirinto, o hiperdrama seria então um labirinto de dramas, um emaranhado de histórias, uma teia de ações construídas em rede de mídia digital, na qual o navegador pode entrar e sair, interagindo com as ações discorridas por aquele que se passou a chamar primeiro autor. Isso porque o hiperdrama não comporta apenas um autor, mas uma multiplicidade deles, tantos quanto desejem entrar na história, ou seja, todos co-autores da narrativa dramática. Se, de acordo com Arlindo Machado, o texto é sempre a atualização de uma infinidade de escolhas num repertório de alternativas eliminadas na versão final da obra, o autor, sofrendo fogo cerrado dos críticos imaginários que o atormentam, faz com que haja uma profusão de possibilidades com inúmeras soluções diferenciadas.

O texto hiperdramático permite que o receptor tenha a oportunidade de conhecer todas as possibilidades do desenrolar imaginadas pelo primeiro autor o que, numa narrativa tradicional, vai sendo refutada na medida em que se desenvolve. No hiperdrama, as subjetividades entram num sistema de troca cultural jamais realizado antes e essa junção homem e máquina, no campo das subjetividades e do que Felix Gattrari chama de “sistemas maquínicos”, nos leva ainda a uma nova forma de produção cultural que está em andamento na sociedade. A máquina então coloca artista e público em uma interação instantânea tornando possível ao público associar-se diretamente à produção da obra e acelerando a produção de significados. O computador permite efetivamente a interação entre artista e público e além disso, uma associação não só a produção, mas também a difusão da obra o que, para Lev Manovich, suspende um dos fatores mais sedutores da narrativa dramática audiovisual: a ilusão. Sem a máquina não há obra, artista, autor e receptor. Também, o hiperdrama pode ser comparado a uma representação arquitetônica como “hiperespaço pós-moderno” e como labirinto, o navegador pode entrar não somente no inicio da narrativa, ou sair no final pois comporta várias ações simultâneas distintas e que por sua vez, lea a outras ações sucessivas.

Assim, as narrativas hiperdramáticas formam uma teia intrincada , “uma bifurcação no tempo e não no espaço”. Aqui outra característica é evocada: a da modernidade tardia em que o rompimento em relação ao tempo-espaço como coloca Antony Giddens, próprio da modernidade, deriva da separação do tempo e do espaço e de sua recombinação em formas que permitem o que ele chama de zoneamento tempo-espacial da vida social. Outro conceito que auxilia na compreensão do hiperdrama é o de heterotopia que, de acordo com Michel Foucault, designa a existência, num espaço impossível, de um grande número de mundo possíveis fragmentados. Os espaços incomensuráveis que são justapostos e superpostos uns aos outros, faz com que os personagens sejam impelidos a perguntar que mundo é esse, o que se deve fazer dele e qual dos eus deve fazê-lo.

A autora ainda nos posiciona que um dos produtos culturais que mais se aproximam do hiperdrama são os videogames que possuem recursos interativos semelhantes em que o receptor não é mais passivo e nem tampouco observador externo, mas o próprio condutor da narrativa. Já a autoria, uma vez que o hiperdrama é uma arte coletiva e a obra só existe e tem sentido se houver interatividade. Antes, ao ler uma história ou uma linha de um poema, pensavámos em imagens e memórias. A mídia interativa, defende Manovich, nos pede para clicar numa frase em destaque para alcançar outras e assim somos convocados a seguir associações pré-programadas. Acontece que somos convidados a nos identificar com a estrutura mental de outra pessoa e o fato reside não no aniquilamento da imposição de subjetividades, mas na escolha de caminhos que acessam parte do todo pré-existente e paradoxalmente, ao segui-lo, o usuário não constrói uma identidade única, mas adota identidades preestabelecidas pelo primeiro autor da obra. A interatividade se realiza entre a coletividade dos espectadores por meio da obrae desta maneira, sons, gestos, textos e imagens se increvem na memória da obra cuja identidade muda e evolui infinitamente, tanto queiram quem dela participar.



19 septiembre, 2009

Feliz Aniversário MAFALDA



Mafalda fez aniversário e ganhou uma estátua!

Mafalda, a sarcástica menina-filósofa que discute a conjuntura mundial, transformou-se em uma escultura. Isso ocorreu no domingo, dia 30 de agosto, quando as autoridades portenhas e o escultor Pablo Irrgang inauguraram a estátua de Mafalfa nas esquinas das ruas Defensa e Chile, no bairro portenho de Monserrat.

REZA FORTE

"QUE AS PULGAS DE MIL CAMELOS INFESTEM O FUNDILHO DAQUELES QUE ESTRAGAREM SEU DIA E QUE SEUS BRAÇOS SEJAM MUITO CURTOS PARA COÇAR"

06 septiembre, 2009

Novas tecnologias e mediação pedagógica

Resenha do texto: Novas Tecnologias e mediação pedagógica. Para onde estamos caminhando no ensino?
Marcos Tarcísio Masseto, Marilda Behrens e José Manuel Moran

Aqui apresento partes do texto “Novas Tecnologia e mediação pedagógica: para onde estamos caminhando no ensino” de Marcos Tarcísio Masseto, Marilda Behrens e José Manuel Moran sugerido pela disciplina Tecnologia da Informação do curso de licenciatura em Teatro da UAB-UNB em 2009.

O texto nos posiciona que desde o final do século passado, estamos vivenciando transformações significativas na transmissão de informações e de conhecimento e essa nova ordem mundial tem pressionado inclusive o campo educacional que muitos concordam, ser o caminho para transformar a sociedade. Um mercado gigantesco está em franco desenvolvimento, o que tem atraído empresas capitalistas a importar modelos de gestão industrial para o campo da educação. Uma das áreas prioritárias é a implantação de tecnologias da comunicação ocupando espaços públicos e privados de educação com a promessa de uma conexão cada vez mais veloz aplicada ao ensino. Mas será essa a solução para resolver questões relacionadas a qualidade do ensino em nosso país?

Os autores assim como nós, estudantes de licenciatura, percebemos que há uma declarada preocupação com o ensino de qualidade muito mais do que com uma educação de qualidade lembrando que ensinar corresponde a uma organização de atividades didáticas para auxiliar o aluno a compreender áreas específicas do conhecimento e integrar ensino e vida, ética e conhecimento, reflexão e ação e a ter uma visão da totalidade enquanto que educar é integrar todas as dimensões da vida, seja ela intelectual, emocional e profissional. Educar é transformar e nos educamos quando aprendemos; é um processo social e pessoal e cada sujeito envolvido participa do processo aprendendo e ensinando.

O ensino de qualidade, para sairmos das armadilhas grotescas que algumas instituições insistem em usar, uma “marketaria” com ares de excelência, envolve um tipo de organização inovadora, aberta, dinâmica, com um PPP coerente e participativo, uma infra-estrutura e tecnologias adequadas e atualizadas, uma organização que congregue docentes motivados intelectualmente e com boas condições profissionais, atentos ao desenvolvimento de uma relação efetiva e afetiva com seus alunos que, por sua vez, tenham capacidades de gerenciar a sua vida pessoal e coletiva e isso, sabemos, exige altos investimentos a curto prazo e quando aparece no cenário educacional alguma instituição com essas características, logo é alçada como modelo, penso que caricaturas que camuflam intencionalmente seus insucessos, seus problemas e suas dificuldades. No encalço, ainda temos alunos que valorizam o diploma muito mais do que o aprendizado e o ensino muitas vezes é voltado para o lucro fácil já que a demanda é excedente. Temos portanto um grande desafio pela frente e mudar esse quadro pernicioso exige o desenvolvimento de formas avançadas de compreensão e integração, de gerenciamento emocional e de aproximar o pensar ao viver.

A ética aparente entre a teoria e a prática, apresentada pela grande mídia, mostra a impunidade reinante entre os sujeitos pertencentes à elite brasileira o que ocasiona confusões que mais geram imitações do que reflexões coletivas. Somente podemos educar nossa sociedade se contarmos com educadores dispostos a um diálogo motivador das potencialidades humanas existentes em cada um de nós. Esse educador ensina e aprende a transpor a “incerteza e passá-la para a certeza provisória” que dará lugar a novas e criativas descobertas, e isso não acontece senão pelo contato pessoal. É importante também que tanto educadores quanto pais e mães tenham disposição intelectual e emocional, que sejam pessoas abertas e que valorizem mais a descoberta do que o resultado acabado, humanas e sensíveis que privilegiem o estímulo e as formas democráticas de participação nos processos comunicacionais. As mudanças na educação dependem também dos demais sujeitos envolvidos no processo pedagógico que apoiem iniciativas inovadoras além daquelas ligadas ao lucro rápido e aos alunos que, motivados pelo educador, se prostem lúcidos e participantes ativos do processo educativo.

E como se dá a construção do conhecimento na sociedade da informação? Os autores partem do pressuposto de que conhecer significa compreender as dimensões da realidade e para tanto defendem que todo conhecimento é interdependente, interligado e intersensorial, que conhecemos melhor quando conectamos, juntamos, relacionamos, acessamos os objetos de vários pontos de vista. Pensar, por sua vez, é aprender a raciocinar e organizar logicamente discursos, argumentações, fundamentações, descrições, explicações, todas elas de forma coerente. Ler, escrever e calcular são habilidades complexas e sofisticadas e desenvolver essas habilidades é fundamental para compreensão do mundo. Processamos as informações de várias formas e a mais usual é o pensamento lógico-sequencial, que se manifesta na oralidade e na escrita, e a espacial ou temporal que se apóia no código linguístico. Sua construção acontece aos poucos, de forma concatenada e tanto a escrita como a leitura dependem de habilidades linguísticas. Em outros momentos, nos diz os autores, processamos a informação de forma hipertextual ou a chamada comunicação “linkada” quando contamos histórias, relatamos situações que se interconectam a significados secundários ou são geradores de novos significados.

Cada vez mais processamos a informação de forma multimídica juntando pedaços de textos de linguagens superpostas e a leitura é cada vez menos sequencial pois são tantas conexões que o importante é a leitura em flashs que criam significações provisórias dando uma interpretação rápida para o todo e que, pelo acesso a outras telas e de acordo com o interesse de cada um, forma uma narrativa própria e subjetiva. A construção do conhecimento é mais livre e passa do sensorial para o emocional pela organização do racional, uma organização provisória que se altera com facilidade e mobilidade instantânea.

Convivemos com essas diferentes formas de processar informações e dependendo de alguns fatores culturais, de faixa etária ou de objetivos, haverá o predomínio de uma sobre a outra. Na sociedade atual, em virtude da velocidade em que temos que enfrentar diferentes situações, utilizamos o processamento multimídico. Os meios de comunicação que dispomos em nossa sociedade, principalmente a televisão, nos acostuma desde muito cedo, a narrativas com várias linguagens superpostas e assim valorizamos essa forma de comunicação rápida, atraente e sintética o que traz consequências para a capacidade de compreender temas abstratos de longa duração e de menos envolvimento sensorial. Na maioria da situações do cotidiano, usamos um tipo de conhecimento polivalente, de resposta no modo full-time que precisa de soluções imediatas. Nas sociedades urbanas, esse tipo de conhecimento multimídico – generalista e sem profundidade – é cada vez mais valorizado e exige cada vez mais flexibilidade e adaptação rápida. A TV favorece este tipo de conhecimento por assimilação imediata e nos oferta tudo mastigado, em curtas sínteses e com respostas de fácil apreensão. Quanto mais mergulhamos na sociedade da informação, mais rápidas são as demandas por repostas instantâneas e os resultados tendem a ser imediatos. Assim, as redes eletrônicas, estimulando a busca on line de informação, leva-nos a cada vez mais buscar conclusões previsíveis, a acumular quantidades e impedem que o conhecimento se torne, de fato, efetivo. Essa habilidade multimídica contrapõem-se ao conhecimento dirigido e aprofundado pois exige concentração, tempo, criatividade e organização.

Cada vez mais são valorizadas as formas de informação multimídica ou hipertextual e menos a lógico-sequencial. Os livros, neste contexto, são menos atraentes para as crianças e os jovens que a multimídia que está muito mais próxima de suas sensibilidades e de suas formas imediatas de compreensão. Não podemos privilegiar então apenas uma das formas de lidar com a informação, mas utilizá-las em distintos contextos e até mesmo selecionar a informação multimídica em situações nas quais algumas pessoas, dadas condições precárias de vida em que o devir é também provisório e a atenção se concentra na precariedade de fatos cotidianos da vida citadina, não desenvolveram aparato intelectual para julgar, para selecionar, para fazer conexões de causas e efeitos, relações, hierarquias pois tudo é fluido, válido, tudo tem importância para depois cair no esquecimento. Não quer dizer que são passivas, mas não estão preparadas para lidar com a gama de dados, de estímulos e com um presente efêmero, sem história e constantemente substituído por outras pseudo-novas mensagens.

A principal tarefa da educação, já que estamos cada vez mais dependentes do sensorial, é auxiliar na apreensão do conhecimento de resposta imediata quanto o de longo prazo, tanto o que se liga a múltiplos estimulos sensoriais como os que dependem de um caminhar mais lento, que exige pesquisa detalhada. Muitos dados ou muitas informações não significam mais e melhor pois o conhecimento torna-se produtivo se o integrarmos em uma visão ética pessoal que o transforma em sabedoria, em saber pensar e agir. Desde situações diversas, da leitura de textos e imagens assim como do contato com as pessoas, podemos ampliar nosso conhecimento para confirmar o que já sabemos, rejeitar algumas visões do mundo e tornar nossos alguns pontos de vista. E um dos grandes desafios do educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações importantes e compreendê-las de forma cada vez mais abrangente para torná-las referenciais.

Aprendemos quando descobrimos novas dimensões de significações que outrora escapavam de nós, quando ampliamos nossos círculo de compreensão, quando estabelecemos pontes entre reflexão e ação, entre experiência e conceituação, entre teoria e prática, quando nos relacionamos e estabelecemos vínculos entre o que estava solto, caótico e disperso. Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal, o social. Aprendemos pelo pensamento divergente, por meio da tensão, da busca e pela convergência, pela integração e pela organização. Aprendemos pela concentração em temas ou objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando perguntamos e questionamos, quando interagimos com os outros e o mundo, quando interiorizamos, quando fazemos sinteses, aprendemos pelo interesse e pela necessidade. Aprendemos muito mais quando a utilidade de algo nos traz vantagens perceptíveis, até mesmo pela criação de hábitos e pela automatização de processos, pela repetição quando, por exemplo, pela leitura de textos no dia-a-dia vai diminuindo nossa resistência em realizá-las. Aprendemos pela credibilidade que alguém merece, pelo estímulo, pela motivação, pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de um tipo de mídia ou de uma pessoa e aprendemos muito mais quando conseguimos juntar vários fatores e aceitar transformar nossa vida em um processo permanente.

O conhecimento se dá fundamentalmente no processo de interação, de comunicação e a informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer é relacionar, saber, desvendar, integrar, contextualizar, ir além da superfície, do previsível e da exterioridade, se aprofundar em níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior, é conseguir chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese quese dá no rico processo de interação entre o meio externo e o interno. É pela comunicação aberta e confiante que desenvolvemos contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento pessoal, social e comunitário. Conseguimos compreender melhor o mundo e os outros, equilibrando desta forma os processos de interação quando entramos em contato com tudo o que nos rodeia; captamos mensagens, revelamo-nos e ampliamos nossa percepção externa. Mas a interiorização só se completa com a interiorização, com o processo de síntese pesoal, de reelaboração de tudo que captamos na interação. Somos solicitados continuamente pela sociedade a ver o novo, na direção do que é exterior e hoje a muito mais pessoas voltadas para fora do que para seu interior, mais repetidoras do que criadoras, mais desorientadas do que integradas. Interagir melhor significa interiorizar de forma mais compreensiva quem somos e o mundo que nos cerca e assim conseguimos levar ao outro novas sínteses sem sermos repetidores do que já existe.

Os processos de conhecimento dependem pofundamente do social, do ambiente cultural e dos grupos nos quais nos relacionamos e depende significativamente de como cada um processa suas experiências como criança, principalmente no campo emocional. As interferências desse campo na infância levam as formas de aprender automatizadas por alguns mecanismos que ajudam ou complicam o processo e um deles é a passagem da experiência particular para a geral, o processo intitulado “generalizações”. Com a repetição de algumas situações semelhantes, a tendência do cérebro é acreditar que elas acontecerão do mesmo jeito e isso torna-se padrão. Diante de novas experiências, a tendência será enquadrá-las rapidamente nos padrões anteriores fixados, sem analisá-las muito profundamente a não ser que haja divergências muito fortes. Com a generalização facilitamos à compreensão rápida, mas deturpando e simplificando nossa percepção do objeto em questão. O estereótipo é um processo de generalização e fixação de conteúdo, que se cristaliza e dificilmente se modifica. Esses processos de generalizações e de interferências emocionais levam a mudanças, a distorções, a alterações na percepção da realidade. O conhecimento fica atrelado a esse filtros condicionados e alguns dados não são nem ao menos percebidos ou são deixados de lado antes mesmo da decodificação. Quando então há muitos estímulos simultâneos, o cerébro seleciona os que considera como principais e corre em busca dos estereótipos que já lhe são familiares. Cada um de nós então considera sua percepção completa e verdadeira e tem dificuldades em aceitar as percepções diferentes dos outros. Se nosso processo de percepção é distorcido, pode nos levar a enxergar, desde pequenos, o mundo de forma negativa e com isso nossa avaliação sobre nós mesmos fica comprometida.

Um dos eixos das mudanças na educação apresentado nesse texto passa pela transformação no processo de comunicação de forma autêntica e aberta entre professores e alunos, administradores, funcionários e comunidade e principalmente entre os pais. Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo e vivencial. Só aprendemos dentro desse contexto e ensinar dentro de estruturas autoritárias pode até ser eficiente a curto prazo no que diz respeito à apreensão de conteúdos, mas não em relação à cidadania. Falar sobre comunicação autêntica numa sociedade competitiva soa demasiadamente estranho, mas as organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos, de confiança, de cooperação e de autenticidade. As tecnologias já nos ajudam a fazer o que fazemos ou desejamos e se somos pessoas abertas, elas nos ajuda a ampliar nossa comunicação, se por outro lado somos mais fechados, ajudam a nos controlar e, se temos propostas inovadoras, elas nos facilitam nas mudanças. Com ou sem tecnologias, podemos vivenciar os processos participativos de compartilhamento no ato de ensinar e aprender por meio de uma comunicação mais aberta, confiante e de motivação constante, de integração de todas as possibilidades, num processo dinâmico e amplo de informação inivadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais, cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno.

Podemos modificar a forma de ensinar se cada organização encontrar sua identidade educacional, suas características específicas e o seu papel social. Um projeto que seja inovador facilita mudanças, estimula a criatividade e propicia transformações. Algumas pistas são sugeridas para encaminhar nossas dificuldades em ensinar. Uma delas é equilibrar o planejamento institucional e pessoal das organizações ligadas à educação, integrar um planejamento que seja flexível à criatividade sinérgica. Se adaptarmos os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado e se transformamos a sala de aula em uma comunidade de investigação, avançaremos em questões aversas às improvisações. Traçar linhas de ação pedagógica que norteiem as ações individuais, sem sufocá-las, respeitar os estilos de dar aulas que dão certo, respeitar as diferenças que contribuem para o mesmo objetivo e personalizar os processos de ensino-aprendizagem sem se descuidar do coletivo, encontrar estilos pessoais de dar aulas que nos possibilite realizar melhor nossos objetivos. Ensinar e aprender hoje exigem mais flexibilidade, menos conteúdos rígidos e processos mais abertos de pesquisa e comunicação e uma das dificuldades é a de conciliar a extensão da informação, as diferentes fontes de acesso, o aprofundamento da compreensão em espaços menos engessados. A aquisição da informação e de dados dependerá menos do professor e assim o seu papel é auxiliar o aluno a interpretar os dados, relacioná-los e contextualizá-los enquanto que do aluno se espera que esteja pronto e maduro o suficiente para incorporar as reais significações que essas informações terão para ele. Enquanto as informações não forem realmente significativas, não serão aprendidas. É importante começar pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança e pela capacidade que todo temos de aprender e mudar. Auxiliá-los a acreditar em si, sentir-se seguro, a valorizar-se como pessoa e a aceitar plenamente as dimensões de sua vida será mais fácil de trabalhar os limites, a disciplina e o equilíbrio entre direitos e deveres, entre o pessoal e o social.

O docente, com acesso as novas tecnologias telemáticas, pode se tornar um orientador/gestor setorial do processo de aprendizagem integrando dessa forma a orientação intelectual, emocional e gerencial. O docente então se torna um pesquisador em serviço; aprende com a prática e a pesquisa e então ensina o que aprende. Realiza-se aprendendo-pesquisando-ensinando-aprendendo e seu papel é o de orientador/mediador intelectual quando informa e auxilia a escolher as informações de maior relevância, trabalha com elas de modo a fazê-las significativas para seus alunos. O orientador/mediador gerencial e comunicacional organiza os grupos em atividades de pesquisa, ritmos e interações, organiza o processo de avaliação e é a ponte principal entre os alunos, a instituição e os demais grupos envolvidos, organiza o equilíbrio entre o planejamento e a criatividade, ajuda a desenvolver todas as formas de expressão, de interação, de sinergia, de trocas de linguagens, conteúdos e tecnologias. O orientador ético ensina assumir e vivenciar valores construtivos, individual e social e num pequeno espaço, organiza o quadro referencial de valores, idéias e atitudes tendo como base a liberdade, a cooperação, a integração pessoal. Os princípios metodológicos norteadores dessa ação corresponde a integrar tecnologias, metodologias e atividades, texto escrito, comunicação oral, escrita, hipertextual, multimídica; variar a forma de dar aulas com técnicas usadas dentro e fora da sala de aula; planejar e improvisar, prever e ajustar-se as circunstaâncias observadas, diversificar, mudar, adaptar-se continuamente a cada grupo e a cada aluno quando necessário e valorizar a presença no que tem de melhor e a comunicação virtual no que elas nos favorecem.

O computador e a Internet nos permite tanto acessar possibilidades prontas quanto apoiar-se no semipronto que pode receber complementações até que apareça o diferente. Com a internet, podemos modificar facilmente as forma de ensinar e aprender mas dependem da situação concreta em que o professor se encontrar: número de alunos, tecnologias disponíveis, duração das aulas, quantidade total de aulas e apoio institucional. É necessário, desde o ínicio, estabelecer um contato empático com os alunos, procurando conhecê-los. A preocupação com os alunos é imprescindível para o sucesso pedagógico. Conhecer suas competências e que contribuições podem dar ao curso, mostrar abertamente o que iremos ganhar ao longo do curso e por que vale a pena estarmos juntos.