18 octubre, 2009

TRISTES NECESSIDADES HUMANAS

Jean Jacques Rousseau (1712-1783), um dos filósofos da Revolução Francesa, em seu célebre “Discurso sobre a origem das desigualdades entre os homens” calculou os maleficios e as benéfices da vida humana e, chegando a um resultado nada animador, achou que a vida era um presente nem um pouco dadivoso. Tirou suas conclusões a partir da constituição do homem civilizado e percebeu que o ser humano possui muitos males que ele mesmo os criou.

Ao consideramos o gigantesco trabalho dos homens e suas ciências profundas, suas artes elaboradas, suas montanhas e rochedos destruídos, seus rios tornados navegáveis e suas águas impróprias para o consumo, suas terras arrasadas, seus lagos exaustivamente escavados, seus pantânos dissecados, suas construções imensas elevadas sobre suas cabeças, seus mares coberto de sangue de animais abatidos sem piedade e todos os processos de des-naturalizar-se, pensa-se quais são as verdadeiras vantagens em relação a felicidade da espécie humana.

E é essa espécie humana racional que se prosta diante da espantosa desproporção que reina entre todas as coisas por ele mesmo produzidas e diante de sua própria cegueira, nutri um orgulho desvairado e não sabe nem ao mesmo admirar-se a si mesmo enquanto espécie natural quando faz com que as misérias de que é susceptível tem ainda a benfazeja natureza que muitas vezes as afasta de maiores temores.


Admiremos a sociedade humana, cujos homens se odeiam na proporção do crescimento dos seus interesses, que retribuiam mutuamente serviços aparentes e se façam efetivamente todos os males até então imagináveis pois o que podemos pensar sobre um comércio cuja razão de cada um em particular lhe preenchem de máximas diretamente contrárias às de razão pública em que cada um tira os seus desejáveis lucros da desgraça do outro? ”(...) O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar outro lugar para a sua subsistência. Como o orgulho não se mistura ao combate, estes terminam por alguns socos e pontapés. O vencedor come e o vencido vai procurar fortuna em outra parte, e tudo está pacificado”.

E o homem da civilização é bem diiferente do homem primitivo: primeiramente deve prover suas necessidades para depois ir ao que é supérfluo. Logo vêm as delícias e em breve as riquezas que se farão melhor com súbditos e escravos. Não há sequer um momento para o descanso ou ócio. E essa originalidade do homem civilizado é que quanto menos suas necessidades são naturais tanto mais as paixões aumentam, e por conseguinte, a vontade de poder satisfazê-las. E após longas eras de prosperidades e de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos outros homens, o herói civilizado acabará por tudo arruinar, até que seja o único e possível senhor do universo. Tal é senão o quadro moral da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.

09 octubre, 2009

Novas Mídias na arte digital
Michel Rusch

Arte Digital

No final do século XX, a percepção da arte moderna e seu desenvolvimento não comporta mais avaliações simplistas pois o uso de novos meios de expressão tecnológicos tornou inaplicável a maneira de ver a arte a partir de movimentos estéticos. Como no final do século XIX, as etapas estilísticas e seus “ismos” chegam ao fim e hoje, na pós-modernidade, qualquer descrição artística que não contemple o espaço tecnológico, está incompleta. Não há então “ismos” associados a arte digital e como meio mecanizado, seu potencial parece ilimitado.
Em 1936, Walter Benjamim escrevia “ The work of Art the Age of Mecanical Reproduction” continua sendo uma referência importante ao afirmar que a tecnologia, sobretudo a fotografia e a cinematografia, levantaram questões sobre o objeto de arte cuja “aura” se perde na reprodução. A reprodutibilidade técnica que outrora exauria as imagens, na era digital, coloca a realidade não mais como tradução ou simulacros, mas acontece uma substituição contínua de imagens e idéias incontestáveis a respeito do real. O mundo digital, que vai além da linearidade introduzida pelo cubismo, é uma nova realidade.
A tecnologia digital e sua ferramenta mais emblemática, o computador, engloba todas as áreas da arte contemporânea e assim a imagem torna-se extremamente maleável pois podemos modificar cada elemento dela, transformando-a em informação aberta a outras manipulações.
O autor enfatiza várias práticas computadorizadas utilizadas por artistas representativos. A velocidade com que as novas formas de arte digital estão sendo criadas pode, inclusive, fazer com que as discussões aqui elaboradas se tornem ultrapassadas apenas pela impressão do texto em debate.
Em arte, os conhecimentos visuais não mais estão limitados ao objeto e precisam abranger o universo fluído, mutável e que, dentro do computador, o mundo artístico interativo virtual é, o que Duchamp sugereriu, o que contempla o conceito: o espectador. “Interativo” é o termo mais utilizado para descrever a arte na era digital. Artistas interagem com máquinas para depois interagirem com os espectadores que criaram a arte ou a manipularam ao participar da pré-programação de acordo com seus comandos. As questões estéticas são abundantes e a arte surge por meio da tenacidade dos meios tecnológicos disponíveis.

Arte computadorizada.

O autor apresenta a evolução dos computadores desde a Guerra Fria em que os cientistas e investigadores, afastados de interesses artísticos, criaram padrões baseados em investigações tecnológicas questionáveis. Americanos e alemães foram os primeiros a realizarem trabalhos artísticos digitais e assim, o computador era usado para copiar efeitos estéticos, facilmente obtidos com o uso de meios de expressão convencionais. Foi apenas no final dos anos 90 que o padrão estético tornou-se elevado na forma da arte digital. Antes da década de 80, não foram então muitos trabalhos artísticos de arte digital que possam ser citados. Artistas que consideravam as máquinas como parceiras no fazer artístico, pareciam mais atraídos por imagens futuristas ou mecânicas como se a arte da máquina tivesse que apresentar certa semelhança com a própria máquina.
Uma das grandes dificuldades no desenvolvimento e na avaliação da arte computadorizada é que os artistas não usaram essa forma de arte em suas obras, ou seja, a arte digital não pôde contar com artistas famosos. Isso se deve, em parte, por um desenvolvimento antitecnológico existente entre os representantes da contracultura. Vários ecologistas e grupos antinucleares protestavam contra experimentos governamentais em tecnologia e energia nuclear, fato esse que pode ter sido o mote retardatário dos experimentos artísticos de tecnologia computadorizada. Além disso, os computadores eram mais dificeis de usar.
Nos anos subsequentes, os primeiros praticantes de arte computadorizada estavam ligados a instituições de pesquisas principalmente nos EUA. Imagens abstratas foram filmadas e um computador analógico mecânico foi desenvolvido enquanto que alguns tentaram reiventar a imagem animada dos filmes de Disney. Essa modalidade de arte digital, chamada alta arte, continua a desempenhar papel importante nos dias atuais. Segundo alguns artistas sul-africanos, a animação pode ser o lócus para uma extraordinária experimentação contextual e textual. Utilizando técnicas disponíveis como colar, apagar, deslocar e multiplicar, os artistas desse ramo desenvolveram um tipo de “paleta eletrônica” com a qual excelentes trabalhos puderam ser realizados. Softwares foram criados para auxiliar a realização de imagens bi e tridimensionais. Compositores inventaram ferramentas musicais que antecederam sintetizadores de teclado tão usados por músicos de todas as linhas.
Nos anos 80, sendo o computador mais acesível, muitos artistas começaram a utilizá-lo, mesmo àqueles cujos trabalhos eram realizados em outros suportes de expressão. Essa maior disponibilidade de acesso aos computadores trouxe uma variada gama de possibilidades de arte interativa e a bstração é seu carro chefe.