24 enero, 2010

Dreans Crows

“CORVOS” de VAN GOGH e “SONHOS” de AKIRA KUROSAWA



Akira Kurosawa, em um período de sua vida, sonhou que entrava num quadro de Van Gogh para perguntar como deveria pintar, já que a atração por pinturas e desenhos o acompanhava desde a infância. O sonho está contado no episódio “Os corvos de Sonhei estes sonhos”, filme que abriu em 11 de maio de 1990 o quadragésimo terceiro Festival de Cannes. Foi em meados de 1988 que começou a filmar e em fevereiro do ano seguinte, nasceu da leitura de um texto de Dostoievski. Já havia pesquisado o que Freud escreveu sobre os sonhos mas não o interessou e tampouco a idéia dos quatro mecanismos fundamentais do sonho : condensação, deslocamento, consideração de representabilidade e elaboração secundária . O que Dostoievski escreveu em o O sonho de um homem ridículo (1877) o deixou mais entusiasmado e desde a leitura da novela de Dostoievski desenvolveu o hábito de anotar os sonhos e guardar algumas destas notas como possíveis idéias de cinema.


Na leitura do conto de Dostoievski, o narrador se diz ridículo desde que nasceu, que na escola tanto quanto na universidade, quanto mais aprendia mais obrigado se via a reconhecer sua condição de pessoa ridícula. O personagem sabia que era ridículo, mas duvidava de sua condição de ridículo ao sonhar um lindo sonho, questionava se as pessoas ridiculas poderiam sonhar tão lindo sonho. Em seus sonhos, coisas estranhas aconteciam e percebendo pormenores com uma clareza assustadora e com elaboração artística, os sonhos advém da razão, mas do desejo e que ultrapassam as leis da razão, do espaço e do tempo e cuja realidade se mistura ao onírico. Ao acordarmos, temos dificuldades de contar o que se passou durante o sonho pois nossa linguagem é deficitária e então não podemos exprimir como foi o que vimos nos sonhos.


No filme, o jovem Kurosawa vê os quadros de Van Gogh num museu, entre eles O campo de trigo com corvos e A ponte de Langlois. O personagem Akira entra no quadro, atravessa a ponte e encontra Van Gogh num campo aberto. Ao vê-lo , Van Gogh pergunta a Akira porque ele não pinta já que a cena é incrível, que parece pintura, mas se olhar com atenção, verá que toda natureza tem sua beleza. Quando nos encontramos com esta beleza natural, a tendência é se perder e, então, como num sonho, a cena se pinta sozinha. O jovem Kurosawa pergunta como ele consegue pintar e Van Gogh responde que trabalha como um escravo, uma locomotiva já que o tempo está se acabando. Kurosawa entra nos quadros de Van Gogh, corre à procura do pintor até ve-lo desaparecer no Campo de trigo com corvos.


No filme, não se trata de traduzir uma forma pintura na forma cinema, mas de construir uma narrativa cinematográfica em diálogo com Van Gogh e assim uma estrutura filmica que contemple o que pintor pintava. Mexer na cor, na forma, no gesto, e produzir um cinema como a pintura que saia do impulso de cortar da natureza o que não serve para a natureza do filme ou do quadro, o que não serve para a expressão. Sonhei estes sonhos torna este diálogo com a pintura de Van Gogh mais fácil de perceber. O filme, baseado então nos sonhos verdadeiros de Akira Kurosawa é constituído de oito sonhos independente e o relato do quinto conto, intitulado “Corvos“, traz a indispensável participação do diretor e cineasta Martin Scorsese no papel de Van Gogh . A pintura Campo de trigo com corvos é o principal elemento neste sonho.


















17 enero, 2010


Momento Narcisístico, afinal de contas, todos têm o seu!